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Democracia no seculo XXI: Aniquilação do sujeito e supressão da vontade humana



Murillo Rodrigues dos Santos


A democracia é uma bomba relógio! Digo isto porque é o sistema político que mais confiamos e acreditamos, mas que, a exemplo da história, também deverá ter seu prazo de validade (assim como foram sistemas políticos anteriores a este). Esta tendência ao questionamento da democracia, para aperfeiçoá-lo e não para regredí-lo, será uma crescente na medida em que esta evidenciar-se como um sistema falho, assim como todo sistema humano.

A questão é que mesmo cheia de defeitos, não encontramos um modelo político melhor que possa dar conta da quantidade de habitantes deste mundo, e do nível de complicação e complexidade em que nossa organização social se meteu: A democracia que veio como uma solução para a organização política da vida social, está cada vez mais desorganizada entremeio de sua burocracia.

Uma pergunta importante à esta altura do campeonato: De que tipo de democracia estamos falando? Ora, essa que parece uma tola pergunta, se bem analisada pode demonstrar-se um pouco mais profunda do que a sua obviedade esconde. Nosso modelo de organização política – cujas inspirações remontam aos tempos da Grécia e da Roma Antigas, que foi recriado aos moldes do iluminismo, da revolução francesa e da norte-americana – é portador de inúmeras formas de expressão – democracia direta, democracia representativa, ou democracia parlamentar, presidencialista, bipartidária, multipartidária (dentre as suas inúmeras possibilidades de classificação). Todavia, é importante ressaltar algumas das questões ainda não resolvidas por este sistema político, das quais passo à apontar algumas.

A democracia moderna parece inspirada no lema da Revolução Francesa de «Liberdade, Igualdade e Fraternidade», de modo que, sem este tripé, é impossível sustentar um modelo de democracia, como esta foi pensada primeiramente. O acontece é que, no atual nível de discussão ideológica que possuímos, parece haver uma extrema dificuldade de transitar entre as pernas deste tripé, de modo que nosso pensamento dualista nos coloca sempre um pensamento dicotômico como impossibilidade: Ou liberdade ou igualdade (esquecendo-se da fraternidade, na maioria das vezes). E assim nos colocamos em disputas frenéticas entre modelos econômicos e sociais concorrentes ad infinitum, paralisando o avanço do pensamento político.

O que acontece é que a democracia, como todo sistema de pensamento também possui as suas limitações e falhas. Segundo Bobbio (1986), este modelo político que nos prometeu uma sociedade pluralista e com liberdade de opinião para todos, foi a mesma que nos frustou, ao passo que, na atual conjuntura social, essa «voz» só se faz ativa e ouvida na medida em que nós fazemos parte de um grupo políticamente representativo: Se você fizer parte de uma minoria psicológica (Lewin, 1935) muito dificilmente será ouviido a menos que seja empoderado por um grupo mais forte. Ora, o que podemos dizer é que a democracia corre um risco de se tornar uma aniquiladora de sujeitos, na medida em que recorrer somente aos grupos como porta-vozes das razões destes mesmos sujeitos… Ora, mesmo entendendo que os indivíduos, para se converterem em sujeitos (seres dotados de autonomia e criatividade), são formados em um contexto sociocultural (Vigotski, 1996), estes necessitam de vários «espaços» para expressarem-se, e na medida em que o espaço de sua individualidade for apagado, estaremos instrumentalizando a democracia como uma ditadura das vontades aheia.

Este que parece uma questão sem solução, na verdade nada mais é do que uma contradição-problema que é o estímulo para o avanço no tema do futuro da democracia: Na medida em que a compreendermos como uma fina arte de frustar interesses e vontades humanas, e da afirmação de outras na busca de um ideal de «bem comum», poderemos navegar entre as tensões destes opostos para «produzir» novas ideias e sentidos políticos, e compreender que a democracia hoje nada mais é do que, o modelo «menos pior» que encontramos para lidar com a ética de uma sociedade cada vez mais decadente pela falta de educação.


Referências

Bobbio, N. (1986). O futuro da democracia: em defesa das regras do jogo. São Paulo: Paz e terra.

Lewin, K. (1935). Psychological problema of aminority group.Cidadedesconhecida: Editoradesconhecida.

Vigotski, L. S. (1996). A formação social da mente. Petrópolis: Vozes.


Sobre o autor

Murillo Rodrigues dos Santos, 22 anos, é psicólogo pela PUC Goiás (Brasil) com graduação sanduíche pela Universidad Católica del Norte (Chile). Mestrando em Psicologia pela Universidade Federal de Goiás (Brasil). Possui extensão universitária em Políticas Sustentáveis pelo Centro Universitário de Goiás (Brasil) e aperfeiçoamento em políticas e serviço público para a América Latina pela Brown University (Estados Unidos), com bolsa da Fundação Botín (Espanha).

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